O Cheiro Deles...

Vi relógio virar de 2:55 para 2:56am. os minutos da madrugada...

Apesar da quase rotina, esse hábito ainda me causava uma certa angustia; parecia haver hora certa para lembrar do que só deve ser pensado durante o dia onde os demônios estão presos. Xinguei, retorci na cama, estiquei os dedos das mãos levantei para fazer um café. Antes mesmo de acender alguma luz, a cola dos cílios começou a arder. “DROGA!! , então decidi andar pela casa de olhos fechados mesmo. Abri a torneira da pia da cozinha e enfiei o rosto, senti o alivio da água lavando minha pele, meus olhos, um pouco do meu cabelo. Abri os olhos, observei meus gatos por algum minutos. Eles me olham apaixonados. Lembrei dos meus São Bernardos, Manolo Otero, Laika e Herman que me embalavam um uma rede ao ar livre, ouvindo os sons do mato, o canto da cigarra, dos grilos e os sapos. Deitada na rede, os São Bernardos em volta, olhava a piscina acesa para observar a água drenando e os sapos namorando. Ahhhh, o ballet dos sapos... lembrei dos vidros embaçados da casa branca e do cheiro do orvalho do capim gordura, lembrei do cheiro de mofo da rede roxa violeta ou púrpura – nunca soube qual a verdadeira identidade cromática da rede e também não vou levar o assunto à ela – e dos cachorros dormindo aos meus pés. Lembrou deles, do sono deles, da maneira como eles respiravam enquanto dormiam, das asas redondas do narizes pretos e úmidos, dos pelos que movimentavam conforme a direção do vento. Lembrei do cheiro da respiração deles e respirei profundamente, como que querendo encontrar tal cheiro no ar. Falhou. Fiquei acordada do sonho-acordado por uma distante sirene de moto se segurança de rua, andei lentamente com minha caneca de café fresco pela sala. Enquanto aguardava ele amornar, reparei na quase dúzia de folhas de caderno escritas e rasuradas e espalhadas na mesa numa ordem que somente eu entendia. E nessas folhas, palavras que somente eu entenderia.