O LUTO DE BATOM
- Toalá Carolina
- 10 de mar. de 2019
- 1 min de leitura

Sentada na frente da TV, consumindo o que há de mais nu e cru dela, observava em tempo real uma mulher simples que resignada contava ao vivo sobre a perda de um filho que havia morrido de maneira trágica nas mãos da violência de São Paulo.
Ela relatava a dor em palavras pausadas, quase sussurradas para milhões de pessoas que estavam no conforto de seus sofás assistindo a desgraça alheia. Observei que ela usava brincos grandes e batom vermelho.
Pensei, na verdade julguei aquilo como um gesto de frieza e quem sabe, descaso com a própria situação. "Como pode uma mãe passar um batom vermelho e colocar brincos dourados no sepultamento de um filho?". Bem, passou.
O dia que acordei com a notícia que meu pai havia falecido, frente ao choque e num ato único e automático, abri o armário e pequei o único batom que eu tinha na época, também vermelho, e passei. Logo me veio a mente aquela mulher da TV, a qual havia julgado e imediatamente a entendi.
Muitas vezes uma mulher passa batom para não morrer.
É um lembrete que temos que continuar. Uma espécie de grito, sinalizando ao mundo que continuaremos vivas e coloridas.
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